Em meio a um país com mais de 200 milhões de pessoas bancarizadas, o letramento financeiro permanece alarmantemente abaixo dos níveis desejados. Embora 55% dos brasileiros reconheçam ter algum nível de acesso a serviços bancários, muitos ainda se sentem despreparados para lidar com dinheiro no dia a dia. É nesse cenário que a educação financeira infantil surge como uma estratégia transformadora, capaz de criar bases sólidas e seguros para as próximas gerações.
O panorama atual da educação financeira no Brasil
Dados recentes revelam que o Brasil atingiu 416 pontos na avaliação de educação financeira, ficando 82 pontos abaixo da média da OCDE. A taxa de poupança familiar é inferior a 15% do PIB, metade do registrado em economias emergentes como China e Índia. Além disso, em agosto de 2025, 71,7 milhões de brasileiros estavam inadimplentes, reforçando a urgência de aprimorar a formação financeira desde a infância.
Entre os jovens, o cenário é igualmente preocupante: quase metade da Geração Z não faz controle de gastos, e 65% ainda ajudam nas despesas da casa sem orientação adequada. Esses números evidenciam que a ausência de habilidades financeiras precoces resulta em dívidas recorrentes e falta de planejamento.
A importância da fase infantil
O início da vida representa uma janela de oportunidade única para cultivar atitudes e comportamentos. Estudos apontam que, até os 12 anos, as crianças assimilam conceitos de maneira mais natural e duradoura. Introduzir noções básicas de economia nessa etapa é fundamental para que, ao alcançarem a adolescência, já dominem termos como juros, parcelas e reserva de emergência.
Por isso, recomenda-se iniciar com atividades lúdicas, como jogos de tabuleiro que simulam decisões financeiras, ou oferecendo um cofrinho como primeiro instrumento tangível de poupança. Essa abordagem reforça o processo de alfabetização financeira e estimula a curiosidade.
Papel dos pais e da escola
Os profissionais de educação e os responsáveis têm um papel insubstituível nesse percurso. Segundo pesquisas, 85% dos pais afirmam ensinar finanças aos filhos, mas apenas metade demonstra controle próprio das contas. A escola, por sua vez, ainda não oferece conteúdo suficiente em muitos casos. Para reverter essa realidade, a colaboração entre família e instituição de ensino é essencial.
- 85% dos pais ensinam a importância de economizar
- 68% acreditam na escola como canal fundamental
- 65% veem a internet como recurso relevante
- 56% dizem que a escola não aborda o tema
- 52% desejam participar de iniciativas de educação
Instrumentos práticos: mesada e ferramentas digitais
A mesada tornou-se um instrumento eficaz para exemplificar decisões financeiras cotidianas. Quando bem estruturada, ela ensina a dividir recursos entre gastos, poupança e doação. Além disso, aplicativos gratuitos e contas digitais infantis oferecem experiências simuladas, permitindo que crianças realizem transferências e acompanhem saldos.
Dados indicam que 39% das famílias dão mesada, a maior parte mensal, em valores próximos a R$ 60. Mais de 23% já utilizam contas digitais para repassar recursos, preparando os jovens para o universo das fintechs.
Construindo hábitos de poupança e investimento
Crianças que recebem educação financeira desde cedo apresentam habilidades de organização financeira superiores. Cerca de 81% criam fundos de reserva, gastando parte e guardando o restante. Além disso, 80% utilizam cofrinhos online, demonstrando conforto com tecnologias e compreensão de rendimentos.
Esses hábitos tendem a se perpetuar na vida adulta, reduzindo riscos de endividamento e aumentando a capacidade de alcançar metas de longo prazo, como estudos, compra de imóvel ou aposentadoria tranquila.
Diferenças socioeconômicas e desafios de equidade
O acesso e as opções de educação financeira variam conforme a renda: nas classes A e B há maior investimento em previdência privada e renda variável, enquanto nas classes C e D/E predominam a poupança e as contas digitais. Mais da metade dos pais ainda não investe para os filhos, mas demonstram intenção de fazê-lo.
Para garantir equidade, é fundamental que políticas públicas e parcerias com organizações não governamentais expandam o alcance de programas gratuitos, alcançando comunidades com menos recursos.
Iniciativas e projetos inspiradores
Para alavancar resultados, destacam-se plataformas de impacto social que combinam tecnologia e educação:
- TD Impacta: apoio a negócios de impacto em educação financeira.
- Tindin: simulação de decisões financeiras do cotidiano em formato de jogo.
- Mooney: capacitação de professores e jogos de cartas educativos em escolas públicas.
Essas iniciativas já envolveram mais de 175 mil estudantes em 2025, comprovando que metodologias interativas engajam e geram mudanças comportamentais.
Benefícios a longo prazo
Investir em educação financeira infantil traz ganhos múltiplos, não apenas econômicos, mas também sociais e emocionais. Entre os principais resultados, destacam-se:
- Compreensão de juros, parcelas e controle de dívidas
- Capacidade de elaborar planos de vida e realizar sonhos
- Desenvolvimento de disciplina e senso de responsabilidade
- Redução de estresse financeiro e aumento da segurança
Ao plantar essas sementes agora, garantimos um impacto verdadeiramente duradouro e positivo para indivíduos e para a sociedade. Cada família, escola e comunidade pode colaborar para que mais crianças aprendam a valorizar, respeitar e multiplicar seus recursos.
É chegada a hora de unir forças: pais, educadores e gestores públicos devem trabalhar juntos para implementar e aprimorar programas de educação financeira em todas as etapas de ensino. Assim, estaremos cultivando não apenas futuros consumidores conscientes, mas cidadãos preparados para construir um país mais próspero e equilibrado.
Referências
- https://artemisia.org.br/educacao-financeira-de-criancas-e-adolescentes-avanca-no-pais/
- http://abefin.org.br/68-dos-pais-acreditam-que-educacaofinanceira-deveria-ser-aprendida-nas-escolas/
- https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2025/09/educacao-financeira-prevencao-de-dividas-comeca-na-escola
- https://portal.febraban.org.br/noticia/4324/pt-br/
- https://g1.globo.com/economia/educacao-financeira/noticia/2024/05/13/mesada-poupanca-e-conta-bancaria-pesquisa-mostra-como-pais-introduzem-os-filhos-as-financas.ghtml
- https://www.gov.br/investidor/pt-br/penso-logo-invisto/educacao-financeira-para-criancas-semear-hoje-o-futuro-de-amanha
- https://www.serasa.com.br/imprensa/pesquisa-financas-infantis/
- https://www.cnnbrasil.com.br/economia/financas/39-dos-pais-brasileiros-tem-o-habito-de-dar-mesada-aos-filhos-diz-pesquisa/
- https://www.cnnbrasil.com.br/economia/financas/56-das-familias-brasileiras-pagam-mesadas-para-filhos-mostra-pesquisa/
- https://cndl.org.br/politicaspublicas/47-dos-jovens-da-geracao-z-nao-realizam-o-controle-das-financas-aponta-pesquisa-cndl-spc-brasil/
- https://www.gov.br/investidor/pt-br/penso-logo-invisto/educacao-financeira-de-pai-para-filho-um-legado-que-transforma-geracoes
- https://aprendervalor.bcb.gov.br/site/aprendervalor/NoticiaAprenderValor/83/noticia
- https://aprendervalor.bcb.gov.br/site/aprendervalor/NoticiaAprenderValor/100/noticia







